Os tipos de comunicação do sistema nervoso
Resumo do 15º capítulo do livro de Mark Bear: Neurociências: Desvendando o Sistema Nervoso
7/15/20257 min read
Introdução
O sistema nervoso se comunica de formas distintas para coordenar o funcionamento de todo o corpo. Esses padrões de comunicação variam em velocidade, alcance e finalidade. Neste resumo, exploramos algumas estratégias de controle neural: o sistema nervoso visceral (autônomo) e os sistemas modulatórios de projeção difusa. Também estudamos o papel do hipotálamo como regulador da homeostase e da integração neuroendócrina e autonômica.
1. Padrões de Comunicação no Sistema Nervoso
Dentre outras maneiras que o sistema nervoso coordena e controla o funcionamento do corpo, pode-se citar três padrões:
Sistema nervoso visceral (autônomo): realiza o controle de órgãos internos (como coração, pulmões, trato gastrointestinal). Opera por meio de vias dissinápticas, paralelas, com ações lentas e amplas, regulando equilíbrio entre excitação e inibição.
Sistemas modulatórios de projeção difusa: compostos por grupos de neurônios com axônios extensos e ramificados que modulam a excitabilidade e sincronia de grandes áreas do sistema nervoso central, sem carregar uma única informação sensorial específica. São os sistemas que utilizam neurotransmissores como dopamina, serotonina, noradrenalina e acetilcolina.
Eixo hipotálamo-hipófise: a produção de diversos hormônios pelas glândulas do corpo é regulada, em grande parte, pela ativação do hipotálamo. Ao detectar alterações no estado interno do organismo, o hipotálamo envia sinais à hipófise, que então secreta neuro-hormônios diretamente na corrente sanguínea.
2. O papel do Hipotálamo na homeostase
A homeostase refere-se à capacidade do organismo de manter seu ambiente interno estável frente a variações externas. O hipotálamo é o principal centro regulador dessa estabilidade. Ele atua como um "termostato biológico", recebendo informações sensoriais do corpo (por vias neurais e humorais) e emitindo comandos para restaurar o equilíbrio.
Esse controle envolve ações rápidas via sistema nervoso autônomo e respostas mais lentas por meio da liberação hormonal pela hipófise. Por exemplo, em situações de frio, é o hipotálamo que ativa mecanismos que aumentam a temperatura corporal (vasoconstrição, tremores, aumento da taxa metabólica).
Mas como o hipotálamo faz isso?
3. Estrutura e Conexões do Hipotálamo
Lembre-se da estrutura macroscópica do sistema nervoso! O hipotálamo é uma estrutura pequena, localizada na base do diencéfalo. Além disso, ele pode ser dividido funcionalmente em três regiões:
Lateral e medial: essas duas zonas estão envolvidas em comportamentos motivados, como fome e sede. Possuem conexões com o tronco encefálico e o telencéfalo.
Zona periventricular: possui células cujas conexões auxiliam no controle dos ritmos biológicos, do sistema nervoso autônomo e na regulação do sistema endócrino.
É assim que o hipotálamo consegue promover a homeostase: através das comunicações estabelecidas com diversas outras estruturas no sistema nervoso.
4. Controle Hipotalâmico da Hipófise
São as células da zona periventricular do hipotálamo as responsáveis por controlar a liberação de neuro-hormônios pela glândula hipófise na corrente sanguínea. São essas células neurossecretoras que regulam diretamente a atividade hipofisária. A hipófise, por sua vez, é composta por duas partes principais — ou lobos — cada uma com funções e mecanismos de controle distintos:
Neuro-hipófise (parte posterior): age como uma "extensão do hipotálamo". Neurônios magnocelulares produzem ocitocina e vasopressina (ADH), que são transportadas até a neuro-hipófise e liberadas diretamente na corrente sanguínea.
Adeno-hipófise (parte anterior): recebe hormônios reguladores dos neurônios parvocelulares do hipotálamo. Esses hormônios controlam a produção e liberação de outros hormônios da adeno-hipófise, que por sua vez atuam em glândulas periféricas (adrenal, tireoide, gônadas).
É a partir dessa ativação que todo o organimo é ativado em situações específicas para atender e se adaptar às demandas externas enquanto mantém o equilíbrio interno.
Um exemplo desse controle é o famoso eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HPA). Em situações de estresse, por exemplo, o hipotálamo libera o hormônio liberador de corticotrofina (CRH) → o qual estimula a liberação do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) pela adeno-hipófise → que age sobre o Córtex Adrenal, liberando o hormônio cortisol.
Referência:
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 4ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
Conclusão
É possível compreender como o hipotálamo exerce um papel central como elo entre o cérebro, o corpo e o ambiente, reforçando sua importância no equilíbrio fisiológico e comportamental. Além disso, compreender os diferentes modos de comunicação neural — somático, visceral e modulatório — é essencial para entender como o sistema nervoso integra e coordena funções corporais tão diversas
Especificamente, os sistemas modulatórios de projeção difusa ilustram como pequenas populações neuronais podem exercer grande influência sobre o humor, o sono, a atenção e a memória. Esses conhecimentos fornecem uma base sólida para a compreensão de condições neurológicas e psiquiátricas, além de servirem de ponto de partida para análise e pesquisa de intervenções terapêuticas.
5. Características do Sistema Nervoso Visceral (Autônomo)
Já sabemos que o sistema nervoso periférico é subdividido em: sistema nervoso autônomo (SNA) e sistema nervoso somático .
Enquanto o sistema nervoso somático atua de forma rápida e precisa contribuindo para a realização dos movimentos voluntários dos músculos esqueléticos, o SNA age no controle dos órgãos internos, exercendo um controle automático, que não exige o esforço consciente do indivíduo.
Além disso, os efeitos do SNA são geralmente difusos e graduais, influenciando amplas regiões do corpo de forma coordenada, uma vez que ele atua por meio de vias dissinápticas, nas quais um neurônio pré-ganglionar faz sinapse em um gânglio com um neurônio pós-ganglionar, que então projeta se para o órgão-alvo.
Diferentemente do sistema motor somático, ele pode tanto excitar quanto inibir os tecidos que inerva, como músculos lisos, cardíacos e glândulas. Seu controle central é exercido principalmente pelo hipotálamo, em especial pela zona periventricular, e também por núcleos do tronco encefálico, como o núcleo do trato solitário.
O SNA pode ser subdividudo em:
Simpático: promove reações de "luta ou fuga" (ex: aumento da frequência cardíaca, dilatação das pupilas, inibição da digestão)
Parassimpático: favorece processos de recuperação e conservação de energia (ex: redução da frequência cardíaca, aumento da motilidade intestinal).
Entérico: controla diretamente o trato gastrointestinal, com relativa independência.
6. O que são os Sistemas Modulatórios de Projeção Difusa?
Veja bem, o funcionamento integrado do encéfalo depende não apenas de circuitos locais e específicos (como o sistema visual), mas também de sistemas que modulam amplamente a atividade neural em diferentes regiões. Esses são os chamados sistemas modulatórios de projeção difusa, formados por pequenos grupos de neurônios localizados, em sua maioria, no tronco encefálico, cujos axônios se ramificam extensamente por todo o sistema nervoso central.
Dentre eles, pode-se citar:
Locus Ceruleus: trata-se de um pequeno núcleo localizado na ponte, em cada hemisfério cerebral, que utiliza de noradrenalina (NA) em suas conexões. Esses neurônios projetam axônios amplamente ramificados para praticamente todo o encéfalo, incluindo córtex, tálamo, hipotálamo, cerebelo, bulbo olfatório e medula espinhal. O locus ceruleus está envolvido na regulação da atenção, do estado de alerta, do ciclo sono-vigília e do humor, sendo ativado por estímulos sensoriais inesperados. Sua ação moduladora aumenta a responsividade do cérebro a eventos do ambiente, facilitando o processamento de informações relevantes.
Núcleos da Rafe: alguns núcleos da rafe que contêm serotonina (5-HT) projetam-se à medula espinhal e modulam o processamento da dor, enquanto outros enviam projeções difusas para o prosencéfalo. Esses neurônios estão mais ativos durante o estado de vigília e menos ativos durante o sono, estando envolvidos no controle dos ciclos sono-vigília, no humor e em respostas emocionais.
Juntamente com o locus ceruleus, os núcleos da rafe compõem parte do sistema ativador reticular ascendente (SARA), que mantém o cérebro em estado de alerta.
As vias Dopaminérgicas: como pressupõe o seu nome, são as vias que utilizam dopamina (DA) como neurotransmissor. Mark Bear subdivide em duas vias, embora outros autores apresentem outras subdivisões. A primeira é a via nigroestriatal, que se origina na substância negra, no mesencéfalo, e envia projeções para o estriado, sendo crucial para o controle motor. A degeneração dessas células está associada à doença de Parkinson. A segundo é a via mesocorticolímbica, que se inicia na área tegmentar ventral e cujos axônios se projetam para o córtex pré-frontal e para estruturas do sistema límbico. Essa via está relacionada à motivação, à atribuição de valor às recompensas e a transtornos psiquiátricos como dependência e esquizofrenia.
Os complexos Colinérgicos: os complexos colinérgicos incluem dois sistemas principais. O complexo colinérgico do prosencéfalo basal, que envolve núcleos como os mediais do septo e o núcleo basal de Meynert, projeta-se para o córtex e o hipocampo, estando envolvido na regulação da atenção, do aprendizado e da formação da memória. Esse sistema é particularmente afetado na doença de Alzheimer. Já o complexo pontomesencefalotegmental, localizado na ponte e no mesencéfalo, atua principalmente sobre o tálamo, regulando sua excitabilidade e contribuindo para os estados de alerta e vigília, em coordenação com os sistemas noradrenérgico e serotoninérgico.
Que tal revisar esse conteúdo respondendo algumas perguntas?
1) O hipocampo é uma estrutura localizada no diencéfalo, bastante relacionada à homeostasia do organismo.
Verdadeiro ou falso?
2) O locus ceruleus está envolvido no alerta e na atenção, modulando diversas áreas do cérebro com noradrenalina.
Verdadeiro ou falso?
3) Qual das alternativas descreve corretamente a relação entre o hipotálamo e a hipófise?
A) O hipotálamo libera ACTH diretamente na adeno-hipófise, estimulando a secreção de cortisol.
B) A neuro-hipófise armazena e secreta hormônios produzidos por neurônios do hipotálamo.
C) A adeno-hipófise somente armazena e libera neurotransmissores que são produzidos pelo hipotálamo.
D) A ocitocina e a vasopressina são ambos secretados pela adeno-hipófise.
E) A comunicação entre hipotálamo e adeno-hipófise ocorre exclusivamente por sinapses colinérgicas.
4) Explique as reações fisiológicas de uma crise de ansiedade utilizando os termos apresentados neste resumo.