Avaliação Neuropsicológica na Adultez
Resumo do 22º capítulo do livro de Malloy-Diniz: Avaliação Neuropsicológica
7/30/20255 min read
Introdução
A avaliação neuropsicológica com adultos é um processo clínico minucioso que busca compreender o funcionamento cognitivo, emocional e comportamental do indivíduo em sua singularidade. Tão importante quanto nas avaliações com crianças, a avaliação com adultos exige sensibilidade e compreensão dos contextos de vida, culturais, educacionais e profissionais que moldam a forma como o paciente percebe e responde às demandas cognitivas.
1. Características da Avaliação Neuropsicológica com Adultos
A avaliação com adultos deve conter uma boa anamnese e investigação do histórico clínico. Isso não significa que anamnese seja menos importante na avaliação neuropsicológica na infância, mas a observação comportamental na infância facilita a confirmação das queixas levadas ao consultório. Já na avaliação de adultos, muitas vezes a avaliação das queixas do paciente ocorre de modo indireto, a partir do seu próprio autorrelato, o que pode conter imprecisões, equívocos ou mesmo manipulações. Dessa forma, faz-se necessária uma boa compreensão do histórico de vida, do momento atual, dos impactos de queixas cognitivas na autonomia e no cotidiano, bem como das expectativas do paciente quanto aos resultados da avaliação.
Se a história clínica contém os dados mais relevantes, a escuta clínica se torna a ferramenta central, especialmente quando se avaliam funções mais sutis ou queixas subjetivas, como perda de atenção, dificuldades de memória, impulsividade ou desorganização. Além disso, é importante considerar e investigar possíveis comorbidades clínicas ou psiquiátricas que possam influenciar o funcionamento cognitivo – como transtornos de humor, ansiedade, uso de substâncias, transtornos neurodegenerativos ou alterações hormonais.
2. Quais são as etapas da avaliação com adultos?
A avaliação neuropsicológica abrange as seguintes etapas:
Entrevista Clínica (Anamnese): Trata-se da fase inicial e essencial da avaliação, onde o vínculo é construído. Nela, investigam-se queixas, história médica, escolaridade, profissão, rotina, hábitos de vida e funcionamento atual. Ainda que seja focada na coleta de informações e histórico clínico, já é possível observar habilidades de linguagem, memória e orientação do paciente, dentre outros aspectos, de forma informal.
Escolha e Aplicação dos Instrumentos: A seleção dos testes deve ser feita de acordo com o perfil do paciente e as funções cognitivas que precisam ser investigadas. É fundamental respeitar o ritmo da pessoa adulta, muitas vezes fragilizada por suas queixas e considerar sua percepção acerca do seu desempenho em cada instrumento.
Observação Comportamental: A observação comportamental direta é realizada no próprio setting, geralmente. A forma como o paciente realiza os testes, sua postura, esforço, nível de engajamento e respostas emocionais ao erro trazem informações valiosas. Atenção especial deve ser dada ao contexto emocional e ao impacto que pode ter nos resultados no paciente. Embora nem sempre seja possível, mas a possibilidade de observação do paciente em contexto natural também pode auxiliar na compreensão das dificuldades e possíveis variáveis que contribuem para sua manifestação. Além disso, a realização de entrevistas com outros informantes também é útil para ter uma compreensão ampliada sobre as queixas do paciente.
Análise dos Dados e Escrita do Relatório: Os resultados devem ser interpretados à luz da história de vida, dos aspectos subjetivos, das observações clínicas e do desempenho nos testes. Mesmo os dados quantitativos podem e devem ser analisados de modo qualitativo, de modo relacionado ao conjunto das demais fontes de informação.
Devolutiva: Esta etapa deve ser clara, ética e respeitosa. É o momento de compartilhar os achados com o paciente (e/ou familiares), explicando as conclusões e orientações de forma acessível, reforçando os recursos que ele possui.
Referência:
MALLOY-DINIZ, L. F. et al. Avaliação Neuropsicológica. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2018.
Conclusão
A avaliação neuropsicológica com adultos vai muito além da aplicação de testes: é um processo clínico, relacional e interpretativo, que requer escuta, técnica e ética. O neuropsicólogo precisa ser sensível ao que está por trás de cada resposta e atento ao que o sujeito não consegue colocar em palavras. Com base nesse conjunto de dados, é possível construir hipóteses diagnósticas, oferecer orientações e contribuir significativamente para a qualidade de vida dos pacientes, seja em casos de queixas sutis ou quadros mais complexos.
3. Como escolher os instrumentos a serem utilizados na avaliação?
A escolha dos instrumentos em uma avaliação neuropsicológica não deve ser feita de forma descontextualizada, simplesmente pelo apego do profissional ao teste ou facilidade na aplicação e correção. A escolha de um instrumento deve considerar as hipóteses levantadas a partir da anamnese e das informações iniciais da avaliação. É essencial pensar no que se quer investigar: será necessário avaliar atenção, memória, linguagem, funções executivas? As escolhas precisam ser guiadas por um raciocínio clínico coerente com os objetivos da avaliação, respeitando também os limites de tempo, as condições clínicas e cognitivas do paciente e o contexto de aplicação.
Abaixo, destacam-se alguns dos instrumentos mais utilizados para avaliar cada função:
Eficiência Intelectual:
WAIS-III (Escala de Inteligência Wechsler para Adultos)
WASI (Escala Wechsler Abreviada de Inteligência)
Matrizes Progressivas de Raven
Teste R1
Atenção:
CPT-II (Teste de Desempenho Contínuo)
BPA-II (Bateria Psicológica para Avaliação da Atenção)
TEADI (Teste de Atenção Dividida)
TEACO (Teste de Atenção Concentrada)
TEALT (Teste de Atenção Alternada)
Funções Executivas:
Teste dos Cinco Dígitos (FDT)
Teste Stroop
Teste das Torres de Londres
Iowa Gambling Task
Linguagem
Teste Token
Teste de Nomeação de Boston
Teste de Fluência Verbal
Memória
RAVLT (Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey)
Figuras complexas de Taylor
Teste dos Cubos Corsi
Que tal revisar esse conteúdo respondendo algumas perguntas?
1) A escolha dos testes na avaliação neuropsicológica deve ser guiada pelas hipóteses clínicas e pelas necessidades específicas de cada paciente.
Verdadeiro ou falso?
2) Aspectos como escolaridade, estado clínico e tempo disponível para a aplicação dos testes devem ser considerados ao selecionar os instrumentos de avaliação neuropsicológica.
Verdadeiro ou falso?
3) Um psicólogo clínico foi procurado por um homem de 58 anos que relatava esquecimentos frequentes e dificuldade para manter a atenção no trabalho. Durante a avaliação neuropsicológica, o profissional organizou as etapas com o objetivo de obter uma compreensão ampla e contextualizada do caso. Com base nas etapas da avaliação neuropsicológica com adultos, qual das alternativas apresenta a sequência mais adequada para esse processo?
A) Aplicação de testes cognitivos → Entrevista com a família → Encaminhamento psiquiátrico → Devolutiva.
B) Anamnese detalhada → Aplicação de instrumentos → Observação comportamental → Confecção do Relatório → Devolutiva.
C) Aplicação de escalas de inteligência → Entrevista com o paciente → Encaminhamento para neurologista.
D) Aplicação de testes padronizados → Reunião com equipe multiprofissional → Elaboração do laudo → Entrevista devolutiva.
E) Entrevista inicial → Aplicação de testes → Encaminhamento imediato para tratamento farmacológico → Avaliação final.
4) Com base no texto, explique algumas razões pelas quais a história clínica se torna tão importante na avaliação neuropsicológica de adultos?