Avaliação Neuropsicológica na Infância
Resumo do 21º capítulo do livro de Malloy-Diniz: Avaliação Neuropsicológica
7/15/20255 min read
Introdução
A infância é um período marcado por intensas mudanças físicas, cognitivas, emocionais e sociais. Nessa fase, o cérebro está em constante desenvolvimento, o que exige uma abordagem cuidadosa e específica na hora de avaliar o funcionamento neuropsicológico. Neste artigo, vamos discutir as caracteríssticas da avaliação neuropsicológica infantil e as funções cognitivas frequentemente prejudicadas nos transtornos do neurodesenvolvimento.
1.Avaliação Neuropsicológica na Infância: Um Desafio Necessário
A avaliação neuropsicológica envolve muito mais do que pontuar respostas corretas em testes. Trata-se de um exame que se baseia em múltiplas fontes de informação: testes neuropsicológicos, observação comportamental, anamnese e história clínica, escalas de rastreio de sintomas, bem como análise dos exames médicos, relatórios escolares e multiprofissionais quando possível. É a combinação cuidadosa desses diversos métodos que permitirão a realização de uma avaliação cognitiva ambrangente e fidedigna.
Não somente a seleção correta dos instrumentos é necessária para essa avaliação, mas o domínio acerca das etapas do desenvolvimento humano é essencial para identificar corretamente alterações ou atrasos. A criança está em constante transformação – o que hoje está imaturo pode, em pouco tempo, se desenvolver significativamente. Por isso, é necessário considerar tanto aspectos normativos do desenvolvimento quanto as singularidades da criança e de seu contexto.
Embora seja complexa a análise dos dados obtidos na avaliação, existem características comportamentais e cognitivas já estudadas que auxiliam na identificação correta de um transtorno do neurodesenvolvimento.
2. Transtorno do Espectro Autista
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por dificuldades persistentes na interação e comunicação social e a presença de padrões comportamentos repetitivos e restritos. Dessa forma, no TEA pode-se observar dificuldades nas habilidades sociais e de comunicação, especialmente em tarefas que envolvem compreender intenções, emoções e pensamentos de outras pessoas, também conhecido como "Teoria da Mente".
Além disso, a criança pode apresentar resistência a mudanças na rotina que levam à desregulação emocional. Visitas a locais novos, interação com pessoas, atividades, brincadeiras ou mesmo comidas diferentes do habitual podem ser rejeitados pela pessoa com TEA ou serem suportados com bastante angústia, principalmente nas situações em que não houve avisos prévios e previsibilidade.
Dessa forma, uma boa avaliação deve abranger instrumentos e procedimentos que ajudem na identificação de déficits ou preservação das habilidades destacadas.
Habilidades frequentemente prejudicadas:
Compreensão de pistas sociais e emoções alheias
Linguagem pragmática e narrativa
Flexibilidade cognitiva
Habilidades frequentemente preservadas:
Memória visual
Atenção
Inteligência não-verbal
Referência:
MALLOY-DINIZ, L. F. et al. Avaliação Neuropsicológica. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2018.
Conclusão
A avaliação neuropsicológica infantil é uma ferramenta poderosa para compreender o funcionamento cognitivo da criança. Em vez de rotular, a avaliaão deve ajudar a construir caminhos: mais do que identificar atrasos e funções deficitárias, identificar potencialidades, orientar professores, informar pais e embasar intervenções deve ser o seu objetivo final. Mais do que avaliar “o que está errado”, trata-se de entender como cada cérebro aprende e se adapta ao mundo. Afinal, quando conhecemos o funcionamento cognitivo e emocional de uma criança, podemos oferecer a ela oportunidades mais justas de desenvolvimento e participação social.
3. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é marcado por dificuldades na capacidade de sustentar a atenção, controlar impulsos e organizar ações. A criança pode aparentar constante inquietude, impulsividade ou desatenção – ou todas essas características simultaneamente.
É importante salientar que mais do que a simples presença dessas características, elass devem estar relacionadas à prejuízos em alguma área do desenvolvimento da criança para que o diagnóstico seja preciso, seja acadêmica, social ou pessoal. Isso porque a presença de prejuízos é o que distingue manifestações que são de fato psicopatológicas de comportamentos que são frequentes e consideradas normais na infância.
Na avaliação neuropsicológica, é relevante investigarmos como a criança regula sua atenção ao longo do tempo, como lida com distrações e como toma suas decisões diante das oportunidades.
Habilidades frequentemente prejudicadas:
Atenção sustentada e seletiva
Controle inibitório e impulsividade
Planejamento e organização (funções executivas)
Habilidades frequentemente preservadas:
Linguagem expressiva e receptiva
Inteligência fluida
Inteligência cristalizada e conhecimentos adquiridos (se o prejuízo atencional não for severo)
4. Transtornos Específicos de Aprendizagem
Os Transtornos Específicos de Aprendizagem são condições que afetam a aquisição e o uso de habilidades escolares básicas, como leitura, escrita e matemática, os quais são imcompatíveis com o nível de inteligência da criança, que se encontra dentro do esperado para a faixa etária. Além disso, são dificuldades que não são melhor explicadas por uma escolarização deficitária, métodos ineficazes de ensino ou outros transtornos emocionais, como transtornos de ansiedade e/ou depressão.
A avaliação nesses casos deve esclarecer se as queixas e problemas escolares se caracterizam como uma dificuldade de aprendizagem, quando fatores psicossociais podem constituir a causa principal dos problemas manifestados, ou um transtorno específico, como a dislexia, discalculia, disgrafia ou disortografia.
Habilidades frequentemente prejudicadas:
Consciência fonológica
Fluência verbal, fluência de leitura ou escrita
Cognição numérica
Habilidades frequentemente preservadas:
Inteligência verbal e não verbal
Atenção em tarefas que não envolvam cálculo e leitura
5. O foco não é somente nos déficits
Em todos os quadros clínicos citados, é essencial que o psicólogo não se limite a identificar déficits. A avaliação neuropsicológica deve revelar tanto as fragilidades quanto os pontos fortes da criança, pois são esses pontos que guiarão a proposta de intervenção. O objetivo final da avaliação é oferecer suporte realista e eficaz para o desenvolvimento infantil – seja na escola, na família ou nas terapias. Uma boa avaliação é aquela que se mostra útil para que os familiares compreendam as dificuldades apresentadas pelas crianças e que favoreça o desenvolvimento das potencialidades.
Que tal revisar esse conteúdo respondendo algumas perguntas?
1) A avaliação neuropsicológica infantil deve se basear exclusivamente em testes padronizados, pois as crianças ainda não possuem maturidade para entrevistas clínicas confiáveis.
Verdadeiro ou falso?
2) Crianças com TDAH tendem a apresentar dificuldades em tarefas que exigem planejamento, organização e controle inibitório.
Verdadeiro ou falso?
3) Considerando o texto, qual alternativa apresenta corretamente um perfil neuropsicológico indicativo de TEA?
A) Déficits marcantes em funções motoras finas e coordenação visomotora, com preservação das habilidades sociais.
B) Dificuldades em linguagem pragmática, comunicação social e flexibilidade cognitiva, com possível preservação do raciocínio visual.
C) Comprometimento tanto da inteligência fluida quanto da inteligência cristalizada, bem como déficits em todas as funções cognitivas.
D) Déficits em atenção concentrada, flexibilidade cognitiva e consciência fonológica.
E) Perfil homogêneo de preservação em todas as áreas cognitivas avaliadas, exceto nas habilidades visuoespaciais.
4) Imagine que uma criança de 9 anos está apresentando dificuldade persistente em leitura e escrita, mas possui boa capacidade de argumentação oral e desempenho satisfatório em matemática. A escola suspeita de dislexia e solicita uma avaliação neuropsicológica.
Com base no texto, quais funções cognitivas devem ser priorizadas na avaliação? Para além das funções cognitivas, quais outros elementos e características devem ser avaliados para um diagnóstico correto?