Avaliação Neuropsicológica e Psicológica: há diferenças?

Resumo do 1º capítulo do livro de Malloy-Diniz: Avaliação Neuropsicológica

7/1/20255 min read

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Introdução

Você já se perguntou qual é a diferença entre Avaliação Psicológica e Avaliação Neuropsicológica? À primeira vista, elas parecem muito parecidas — afinal, as duas buscam avaliar comportamento e a psique humano. Mas, à medida que a gente se aprofunda nos conceitos, percebemos que existem diferenças importantes, tanto no que diz respeito à teoria quanto à prática profissional. Este resumo tem o objetivo de esclarecer essas semelhanças e distinções, especialmente para quem tem interesse e está próximo de iniciar suas práticas profissionais.

1. O que muda (e o que não muda) entre Avaliação Psicológica e Neuropsicológica

Vamos começar pelo que elas têm em comum: tanto a Avaliação Psicológica (AP) quanto a Avaliação Neuropsicológica (AN) são processos cuidadosos que usam entrevistas, testes, observações e outros instrumentos para entender como uma pessoa pensa, sente e se comporta. Ambas buscam responder a perguntas específicas sobre o funcionamento psicológico ou cognitivo do indivíduo. Mas, apesar dessa base compartilhada, elas seguem caminhos um pouco diferentes.

A Avaliação Psicológica é bem ampla e pode acontecer em diversos contextos: clínico, escolar, organizacional, jurídico, hospitalar, entre outros. Já a Avaliação Neuropsicológica tem um foco mais específico — ela busca entender como possíveis alterações no cérebro afetam o comportamento e as funções cognitivas da pessoa, como memória, atenção, linguagem e raciocínio. Em geral, a AN é mais comum em contextos clínicos e hospitalares, lidando com casos de lesões, transtornos neurológicos ou dificuldades cognitivas mais complexas.

Outro ponto importante: a AP se apoia principalmente em teorias psicológicas para interpretar os resultados, enquanto a AN combina essas teorias com modelos neurobiológicos, sempre tentando estabelecer uma ponte entre o cérebro e o comportamento. Isso não significa que uma é melhor que a outra, mas sim que cada uma serve a propósitos diferentes.

2. E quanto à regulamentação? Quem pode fazer o quê?

Do ponto de vista legal, há uma diferença bem clara: a Avaliação Psicológica é uma atividade privativa do psicólogo. Isso está garantido na Lei nº 4.119/62, que estabelece que só psicólogos podem aplicar e interpretar testes psicológicos reconhecidos pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). Ou seja, mesmo que um outro profissional da saúde tenha conhecimento técnico, ele não pode usar testes psicológicos se não for psicólogo.

Já a Avaliação Neuropsicológica pode ser conduzida por profissionais de outras áreas da saúde, desde que tenham formação específica em neuropsicologia. No entanto, mesmo nesses casos, o uso de testes psicológicos — aqueles que exigem validação e aprovação do CFP — continua sendo restrito ao psicólogo. É aí que surgem alguns dilemas éticos e legais, principalmente quando o profissional que realiza uma AN não tem formação em Psicologia.

Além disso, há uma diferença no tipo de instrumento usado em cada avaliação. A AP pode incluir testes projetivos, expressivos e/ou reativos, escalas de personalidade e interesse, enquanto a AN tende a se concentrar mais em testes de desempenho, que avaliam funções cognitivas. E ainda vale lembrar que a AN, com frequência, considera dados de exames de neuroimagem como dado complementar à avaliação, algo que nem sempre está presente na AP.

Referência:

MALLOY-DINIZ, L. F. et al. Avaliação Neuropsicológica. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2018.

Conclusão

Apesar de partirem de pontos em comum e, muitas vezes, se cruzarem na prática, a Avaliação Psicológica e a Avaliação Neuropsicológica têm caminhos próprios, tanto do ponto de vista teórico quanto legal. Entender essas diferenças é essencial para oferecer uma avaliação ética, embasada e realmente útil para quem está sendo atendido. Mais do que escolher entre uma ou outra, o mais importante é compreender qual abordagem responde melhor à demanda apresentada — e garantir que ela seja feita por um profissional preparado, atualizado e atento às responsabilidades da profissão.

3. Outros profissionais estão realmente capacitados para realizar a avaliação neuropsicológica?

Essa é uma dúvida bastante comum, tanto entre estudantes quanto entre psicólogos — especialmente os que não atuam diretamente com neuropsicologia: como alguém formado em Educação ou em outras áreas da Saúde pode conduzir uma Avaliação Neuropsicológica? Como esse profissional vai avaliar o comportamento humano? Esse tipo de questionamento costuma vir carregado de um pressuposto equivocado: o de que apenas o psicólogo é capaz de compreender o comportamento humano.

Na prática, o psicólogo tem sim uma formação sólida para analisar os fatores que influenciam esse comportamento — sejam eles ambientais, sociais, históricos ou subjetivos — sempre com base em uma teoria psicológica. Mas isso não significa que outras áreas não tenham conhecimento legítimo sobre o comportamento.

Vale lembrar que o ser humano é também um organismo biológico, e que muitos aspectos do nosso comportamento — como linguagem, memória, atenção e movimento — dependem do funcionamento do sistema nervoso. E, nesse ponto, outros profissionais podem ter uma contribuição mais profunda. Por exemplo: quem estuda mais a fundo os aspectos da linguagem, o psicólogo ou o fonoaudiólogo? E quando falamos sobre a motricidade fina e a coordenação motora, quem tem mais domínio, o psicólogo ou o terapeuta ocupacional? Por outro lado, o psicólogo pode contribuir de forma única ao compreender como o ambiente, a história de vida e os padrões de pensamento influenciam a reabilitação de um paciente com lesões neurológicas.

A verdade é que a neuropsicologia é, por natureza, uma área interdisciplinar. Seu avanço depende da colaboração entre profissionais de diferentes formações, cada um trazendo seu olhar, seus métodos e seus conhecimentos específicos. Reconhecer essa diversidade não enfraquece a Psicologia — ao contrário, enriquece a prática e fortalece o cuidado interdisciplinar do paciente.

Que tal revisar esse conteúdo respondendo algumas perguntas?

1) A Avaliação Neuropsicológica é um processo que busca relacionar o funcionamento cognitivo e comportamental com aspectos do sistema nervoso central, utilizando modelos de correlação estrutura-função para interpretar seus achados.

Verdadeiro ou falso?

2) A utilização de testes psicológicos em avaliações neuropsicológicas pode ser feita livremente por qualquer profissional da saúde, desde que tenha especialização em neuropsicologia, independentemente de sua formação de base.

Verdadeiro ou falso?

3) Durante um processo de avaliação em contexto clínico, uma profissional da psicologia decide utilizar testes padronizados, testes projetivos e de personalidade, além de realizar entrevistas e observar o comportamento do paciente. Ela interpreta os resultados à luz das teorias psicológicas e decide não solicitar outros exames de imagem que o paciente possua.

Sobre o processo ilustrado, é mais provável que:

A) Trata-se de uma Avaliação Neuropsicológica, pois a realização de entrevistas e observação do comportamento são procedimentos específicos dessa modalidade de avaliação.
B) Trata-se de uma Avaliação Neuropsicológica, pois está sendo conduzida por uma psicóloga com base em instrumentos padronizados.
C) Trata-se de uma Avaliação Psicológica, pois envolve a análise do funcionamento psicológico com base em teorias psicológicas, sem necessidade de correlação direta com o SNC.
D) Trata-se de uma Avaliação Neuropsicológica, pois a base para interpretação dos resultados são os modelos psicológicos e de personalidade.
E) Trata-se de uma Avaliação Psicológica, mas está incompleta por não solicitar outros exames de imagem do paciente, o que invalidará a avaliação em contextos clínicos.

4) A Avaliação Neuropsicológica é frequentemente conduzida por profissionais de diferentes áreas da saúde, como psicólogos, neurologistas, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos. Considerando a natureza interdisciplinar da neuropsicologia, discuta criticamente os limites e as possibilidades do exercício profissional da Avaliação Neuropsicológica por profissionais que não possuem formação em Psicologia.